14 julho 2010

Mais algumas perguntas sobre o APM respondidas pelo Dr. Carlos Martins

Ricardo Nader


Meus amigos, nessa semana entrei em contato com o Dr. Carlos Martins enviando mais alguns questionamentos sobre o APM. Para quem não sabe, o Dr. Carlos é inventor deste aparelho e acumula uma experiência de mais de 20 anos com ele.

Dr. Carlos Martins generosamente respondeu as minhas perguntas e no final falou algo que só um verdadeiro mestre poderia falar. Vejam abaixo a cópia do email:

Olá Dr. Carlos, me chamo Ricardo Nader e há alguns meses entrei em contato com o Sr. para tirar algumas dúvidas sobre o APM. Na época havia saído um artigo na Dentalpress ( edição junho e julho de 2009) em que o Sr. demonstrava diversos casos tratados com o APM. Passado este tempo, tenho mais alguns questionamentos e gostaria que o Sr. me ajudasse.

A questão é a seguinte, o Sr. inicialmente mostra o tratamento de um caso cl II com mordida profunda e atribui a abertura da mordida à força intrusiva do APM na região dos incisivos ( e possivelmente extrusão dos dentes posteriores no espaço da mordida aberta posterior que se forma no momento do avanço da mandíbula).

Num outro caso apresenta um caso de mordida aberta e atribui o fechamento à força intrusiva na região do molar superior com rotação da mandíbula no sentido horário.

Eu gostaria de saber o seguinte:

1. Estas duas situações ( intrusão dos incisivos inferiores e na região dos molares superiores) teoricamente sempre ocorrem com o uso do APM e elas são as causas da resolução de duas situações distintas. É possível ser seletivo, escolher, que apenas uma destas situações ocorram, só intrusão dos molares ou só intrusão dos dentes anteriores inferiores?

2. No caso da mordida aberta, na minha opinião, outra causa do fechamento da mordida foi que na distalização dos dentes anteriores superiores houve também diminuição da sua inclinação ( eram inclinados para vestibular), o Sr. concorda?

3. Esta parte de fechamento ou abertura de mordida com o APM, o Sr. poderia explicar melhor? Há alguma situação em que alguma alteração precisa ser feita no protocolo, qual? Por exemplo, um paciente com mordida profunda e AFAI aumentado, onde a extrusão dos dentes inferiores posteriores não é desejada, como proceder?

3. Num caso de extração de dois prés superiores e for usar o APM como ancoragem, ele deve ser montado passivamente?

4. E por último, mas não menos importante, eu tenho um blog de ortodontia e o tema APM é um dos mais discutidos pelos colegas. Sempre aparecem muitas perguntas. Eu gostaria de selecionar algumas perguntas dos nossos leitores e passar para o Sr. responder. É possível?

Respostas

Prezado Ricardo,

Em principio, acredito que o APM instalado principalmente em distal do primeiro molar superior, tenda a fazer com que a parte anterior da maxila desça no sentido horário, facilitando o fechamento de alguns tipos de mordida aberta. Exagerando um pouco, somente para facilitar o entendimento, teoricamente os incisivos poderiam descer tanto que a mordida acabaria por se tornar profunda. Mas porque não chega a isso? Porque esses incisivos acabam por encontrar os incisivos inferiores, não podendo mais descer, ficando tais incisivos, os inferiores e os superiores, apoiados reciprocamente através do cíngulo. É necessário lembrar que os incisivos superiores somente encontram os inferiores para parar o movimento para baixo, porque a mandíbula está anteriorizada pelo APM, nos casos de Classe II. Se não estivessem, continuariam a descer, e, exagerando, poderiam até criar um “overbite”. Já na correção do “overbite”, ele é corrigido “de mentirinha” no momento em que você avança a mandíbula artificialmente até a posição de topo. Na ação do APM, o processo dentoalveolar superior é distalizado até a posição máxima, levado pela mandíbula que está voltando para trás levada pela musculatura. A mandíbula chega até a sua posição mais distal também máxima, sendo que a mandíbula depois de retirado o APM não poderá ir mais para trás do que já está. Já que a maxila não vai voltar para a frente, se não houve qualquer folga no APM que pudesse deixar os incisivos superiores e inferiores saírem da posição de topo, o apoio recíproco dos incisivos vai continuar, não deixando a sobremordida vertical recidivar.

Repetindo, a correção da mordida profunda e da aberta, ambas se baseiam no apoio recíproco dos incisivos. Se o APM na Classe II com mordida profunda é ativado até a posição de topo dos incisivos, a mandíbula vai retornar à posição distal original em topo, até o ponto em que não poderá ir mais para trás. O processo dentoalveolar superior, juntamente com todos os dentes superiores também foram, acompanhando a mandíbula. Como nem a maxila nem a mandíbula poderão ir mais para trás ou mais para a frente, os incisivos não perderão mais seu apoio recíproco vertical. Da mesma forma aconteceu com a mordida aberta no caso do artigo. Mas às vezes, se há excesso vertical, e o caso não for realmente cirúrgico, eu tenho me dado bem com a extração dos primeiros molares permanentes.

Quanto à intrusão dos incisivos inferiores, ela acontece, nivelando a curva de Spee, mas não é o dado mais importante, é somente complementar.

Com relação à mordida aberta ser em parte decorrente da inclinação dos incisivos, é verdade, já que as mordidas abertas alem de esqueléticas e funcionais podem tambem ser do tipo biprotrusivo.

Outra coisa; Isso tudo é o que EU acho. Mas se você me perguntar de verdade se eu tenho certeza, vou dizer que NÂO, pois em verdade a gente não sabe de nada.

Mas se você entendeu o que eu quero dizer, favor me comunicar. Um abraço,
Carlos


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