01 outubro 2009

Caso clínico - Interação entre Ortodontia e Dentística em um caso clínico com discrepância de Bolton

Ricardo Alves de Souza, Darcy Flávio Nouer ,
Maria Beatriz Borges de Araújo Magnani, Vânia Célia Vieira de Siqueira,
João Sarmento Pereira Neto , Maria Carolina Blanco Acevedo.


Para exemplificar a postagem anterior vejam o tratamento de um paciente com discrepância de Bolton.


Introdução

Os problemas relacionados à anatomia dentária, determinando uma discrepância de tamanho dentário de Bolton, no excesso ou na redução de largura, ocorrem em um número considerável de casos de pacientes que procuram por tratamento ortodôntico. Esta situação, pode influenciar os objetivos do tratamento, ocorrendo muitas vezes nas últimas fases do tratamento ortodôntico, e impedindo a finalização do caso adequadamente, pois o tamanho dos dentes superiores não se mostra compatível com os inferiores.

Durante o exame clínico, a relação dos comprimentos mesiodistais dos incisivos superiores, maiores que os correspondentes inferiores, pode evidenciar uma tendência para maior sobremordida e sobressaliência. Se os inferiores forem maiores que os superiores, existirá uma tendência para mordida topo-a-topo.

Uma outra hipótese para compensar esta desproporção é a presença de diastemas superiores para manter a relação vertical e horizontal entre os arcos, ou
ainda um pouco de apinhamento no arco inferior para acomodação do excesso de massa dentária.

Na prática diária, estas situações são resolvidas, muitas vezes, desgastando-se o excesso de massa dentária em questão, ou refazendo o contorno dos dentes proporcionalmente menores com material resinoso.



Caso clínico


O paciente C. A. S. P., do gênero masculino, de 17 anos de idade, apresentava diastemas generalizados em toda porção anterior das arcadas superior e inferior, os quais representavam a maior queixa estética do paciente em relação ao seu sorriso, e o motivo da procura de tratamento ortodôntico.

Durante o exame clínico, constatou-se que os diastemas na arcada superior, ultrapassavam 4mm entre os incisivos centrais superiores, 3mm entre os incisivos laterais superiores e incisivos centrais e também 3mm entre os caninos superiores e incisivos laterais.

Na arcada inferior, também apresentava diastemas de 1,5mm entre os incisivos centrais, 1mm entre os incisivos laterais e caninos e 2mm entre os caninos e os primeiros pré-molares inferiores.

A relação molar e canino, lado direito e esquerdo, encontrava-se em Classe I de Angle. Pelos exames facial e cefalométrico confirmou-se uma boa relação entre maxila e mandíbula, para padrões brasileiros (SNA = 84, SNB = 81, ANB = 3, IMPA = 95), e um padrão dolicofacial (FMA =29, SN.GoMe = 29).



Dessa forma, confirmado o problema dentário do paciente, pela presença de diastemas e pelo aspecto alterado dos incisivos laterais superiores, quase conóides, a suspeita recaiu sobre uma discrepância de tamanho dentário, sugerindo uma avaliação mais precisa através da Análise de Bolton.

Após a análise de modelos confirmou-se uma discrepância de Bolton, obtendo-se os seguintes valores: discrepância total igual a 100, sendo que a média preconizada pelo autor foi de 91,3. A discrepância no segmento anterior apresentou um valor igual a 82, sendo pré-estabelecida uma média de 77,2.

Como previsto, a região anterior confirmou-se como o setor de maior problema, apontando uma discrepância de + 3mm.



Tratamento

O tratamento ortodôntico fixo consistiu na colagem de braquetes padrões sem qualquer tipo de pré-torqueamento ou angulação (Uniteck 3M). Foi realizada uma etapa inicial para alinhamento e nivelamento na arcada superior, pois o paciente apresentava suave sobremordida, e após 3 meses ocorreu a colagem inferior e subseqüente fechamento dos espaços neste arco. O objetivo foi verificar o espaço disponível para a retração ântero-superior. A segunda fase ocorreu no sexto mês de tratamento, em que foram removidos os braquetes dos 4 incisivos superiores, para realização das restaurações com Resina Composta (3M ESPE Filtek Z250) nas superfícies mesiodistal destas unidades, corrigindo a anomalia de forma.



Os espaços remanescentes foram então totalmente corrigidos, através de amarrilhos conjugados nos anteriores e, logo após, com retração anterior destes dentes, no arco de finalização de aço retangular 0,019” x 0,025”. A conclusão do caso ocorreu após 12 meses de tratamento, com resultado bastante satisfatório para o paciente, e instalação de contenções fixas, tanto no arco inferior quanto no superior.





Fotografias oclusais destacando as contenções fixas em ambas arcadas


Discussão

Uma discrepância entre os incisivos centrais superiores pode ser considerada como uma das má oclusões que mais preocupam os pacientes, devido ao envolvimento estético.

Pelos elevados percentuais de ocorrência de casos com discrepância de tamanho dentário e problemas na anatomia dentária, estas situações representam mais um fator de dificuldade para a fase de finalização e deveriam ser consideradas durante a fase inicial de diagnóstico e plano de tratamento.

A inclusão rotineira de uma análise de tamanho dentário nos procedimentos iniciais de um tratamento ortodôntico determinaria a obtenção de um diagnóstico mais completo. A identificação de uma discrepância antes do alinhamento dentário final seria benéfica no planejamento do tratamento e nas expectativas finais do clínico e do paciente, aumentando o índice de sucesso.

Na fase de contenção, o periodonto e regiões adjacentes apresentam-se em estado de reorganização. Por isso a contenção ou estabilização deve ser mantida até que os tecidos voltem ao seu estado normal. O tratamento dos diastemas, além de ser individualizado, requer domínio da mecânica ortodôntica pois, devido ao fator etiológico genético, ocorre uma forte tendência para reabertura do espaço, mesmo após o fechamento ortodôntico e contenção prolongada.


Conclusões


A interação entre as duas áreas, neste caso Ortodontia e Dentística Restauradora, justificou- se, pela impossibilidade de finalização sem a atuação conjunta de ambas especialidades. Na utilização de mecanismos exclusivamente ortodônticos, poderia ocorrer um não fechamento de todos os diastemas superiores, ou uma instabilidade do caso após a remoção do aparelho fixo. Por outro lado, a tentativa de fechamento de espaço exclusivamente com resina composta implicaria em um resultado estético final insatisfatório.

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