Artigo traduzido - Erupção espontânea de um canino após marsupialização de um cisto dentígero infectado

Ricardo Nader

 

Spontaneous eruption of a canine after
marsupialization of an infected dentigerous cyst

Soraya de Azambuja Berti, Adriane Bastos Pompermayer, Paulo Henrique Couto Souza,
Orlando Motohiro Tanaka, Vânia Portela Ditzel Westphalen, and Fernando HenriqueWestphalene
Curitiba, Paraná, Brazil

Este artigo foi publicado no American Journal ( AJODO)  vol 137 n. 5. Acredito que seja a edição mais recente.  
  

O cisto dentígero é o tipo mais comum de cisto de desenvolvimento odontogênico. Sua origem está no folículo dentário de uma coroa de um dente ainda não erupcionado, geralmente o terceiro molar inferior, que está preso ao cisto através da junção amelocementária.

É mais freqüente nas segunda e terceira décadas de vida, a mandíbula é a região mais afetada e é mais comum em indivíduos do gênero masculino. Estes cistos podem causar expansão da cortical óssea e consequentemente assimetria facial, embora usualmente não há sintomas. Deslocamento dos dentes próximos ao cisto e reabsorção radicular também são observados em alguns pacientes.

A imagem radiográfica mostra uma área radiolúcida unilocular com margens escleróticas bem definidas. Contudo, osso trabecular pode aparecer na imagem radiográfica, criando a falsa impressão de lesão multilocular e uma vez infectado o cisto pode mostrar margens difusas.



Enucleação e marsupialização são as melhores opções de tratamento. O primeiro é o processo em que o cisto é completamente removido, sem ruptura; geralmente indicado para cistos menores. Para lesões maiores, este procedimento pode causar fratura na mandíbula, desvitalização de dentes, ou remoção desnecessária de dentes impactados associados ao cisto.



Marsupialização consiste na realização de uma cavitação cirúrgica na parede do cisto, esvaziando o seu interior e mantendo a continuidade entre o cisto e a cavidade bucal, seio maxilar ou cavidade nasal, mas não é indicado em lesões infectadas. Esta técnica está indicada em cistos maiores, dentes impactados associados ao cisto em pacientes pediátricos ou pacientes com doença sistêmica, geralmente idosos. Isto permite a descompressão do cisto, reduzindo a extensão do defeito ósseo.



O tratamento do dente impactado é um desafio para o ortodontista e o tratamento de escolha é a exposição cirúrgica do dente com conseqüente tração ortodôntica, o que geralmente causa a redução do cisto e preserva o dente. A erupção espontânea pode ocorrer.

Os autores apresentam um relato de caso de um paciente com um canino e primeiro pré-molar inferior não erupcionados associados a um cisto dentígero infeccionado que foi tratado com  marsupialização.

Relato do caso

Paciente do gênero masculino, 9 anos de idade veio encaminhado pelo clínico que suspeitava de um cisto dentígero associado ao canino decíduo inferior esquerdo e ao pré-molar. Relatou-se que o paciente teve episódios recentes de febre e supuração na região do cisto. O paciente foi tratado com antibióticos.

O exame clínico revelou que havia mobilidade nos dentes envolvidos e a presença extra e intraoral de um inchaço duro e indolor. A radiografia panorâmica mostrou uma lesão radiolúcida bem definida medindo 3,0 X 4,0mm associada ao canino decíduo e ao primeiro pré-molar, mudando a angulação da erução do canino permanente e do primeiro pré-molar em 15mm ( Figura 1B e C)

                                  Figura 1

O objetivo do tratamento foi reduzir o tamanho da lesão através da marsupialização, considerada menos agressiva, e acompanhar ortodônticamente a erupção dos dentes permanentes até estabelecer a oclusão normal.
Uma incisão local foi realizada, mostrando uma pequena porção do líquido do cisto, confirmada pelo exame histológico ( Fig 1D). O tratamento realizado foi a marsupializacão do cisto e extração do canino e do primeiro molar decíduos. Os pontos foram removidos uma semana após a cirurgia. Aproximadamente 3 meses após a cirurgia a lesão cistica havia diminuído e a erupção normal do canino e primeiro pré-molar foi observada. ( Figura 2)


                               Figura 2

Após um ano as características radiográficas e clínicas revelaram a reducão da área inchada, erupção espontânea do canino e primeiro pré-molar e aspectos de normalidade após a realização da marsupialização. Após isto, qualquer tratamento ortodôntico poderia ser realizado.