Eu pessoalmente não utilizo nenhum aparelho que tem como forma de ação o avanço de mandíbula.
Na minha clínica diária utilizo com muita frequência o aparelho extrabucal e tenho casos finalizados que ficaram muito bons e só reforçam a minha confiança nesta modalidade de tratamento.
O grande problema do aparelho extrabucal está na dependência direta da cooperação do paciente. É importante ressaltar, isto para os colegas menos experientes, que é possível através de persistência conseguir excelentes resultados. E posso afirmar que os meus casos de insucesso com o AEB foram bem poucos. E nestes casos de insucesso, normalmente recorro a extrações, microparafusos ( mini-implantes), barra transpalatina, elásticos associados a molas abertas, etc.
Vou colocar aqui um trabalho publicado na dentalpress de dezembro de 2004 escrito por Shimizu e colaboradores que considero extremamente completo e pode servir para ajudar muitos colegas.
Princípios biomecânicos do aparelho extrabucal
Roberto Hideo SHIMIZU, Aldrieli R. AMBROSIO, Isabela A. SHIMIZU, Juliana de GODOY-BEZERRA, Jucienne Salgado RIBEIRO, Katiane Regina STASZAK
Introdução
O objetivo do trabalho foi explicar os princípios biomecânicos da utilização do AEB em tratamentos das más oclusões de cl II de forma a minimizar os seus efeitos colaterais e maximizar os efeitos benéficos.
A incidência da má oclusão de cl II varia de 35% a 42%, podendo atingir até 50% dos casos clínicos tratados na clínica odontológica.
O tratamento com aparelho extrabucal está indicado nos casos em que a má oclusão é determinada predominantemente por uma protrusão maxilar.
O AEB tem como seus principais efeitos a distalização dos molares, restrição do avanço maxilar e redução do trespasse horizontal.
A tração extrabucal pode ser alta (parietal), média (occipital) ou baixa (cervical). Cada uma com as suas indicações precisas e resultados programáveis. Ao se modificar o comprimento do arco externo e direção em relação ao arco interno as consequências nas estruturas óssea e dentária são alteradas.
Oosthuizen, Dijkman e Evans realizaram uma avaliação mecânica do AEB e verificaram que ao aumentar o comprimento do arco externo em um lado, o componente de força distal é maior neste. E que inclinando o arco externo para cima o efeito vertical (extrusivo) aumenta. Mas se, independentemente das modificações feitas, a linha de ação de força mantiver a mesma inclinação e relação com o centro de resistência o efeito será o mesmo.
Para se optar por uma determinada tração extrabucal o tipo facial do paciente deve ser considerado.
Uma tração extrabucal comumente utilizada para obter ótimos resultados de retrusão maxilar e distalização do molar é a baixa ou cervical. Suas consequências sobre o crescimento vertical e a inclinação do plano mandibular são fatores a serem considerados na decisão utilizá-la ou não em pacientes dolicofaciais.
A tração baixa tende a extruir os molares, rotacionar a mandíbula no sentido horário e a aumentar o terço inferior da face.
A tração horizontal ou occipital diminui a possibilidade de extrusão dos molares e os distaliza sem alterar a altura facial inferior do paciente. Alguma rotação pode ocorrer, mas em menor intensidade do que nos outros tipos de tração. Observa-se também restrição do crescimento anterior da maxila.
Quando a tração alta ou parietal é a opção de tratamento, observa-se que ela restringe o crescimento vertical indesejável, não aumentando a altura facial anterior podendo inclusive intruir molares.
É bastante comum a observação de movimentos de rotação da mandíbula durante a utilização do AEB. De acordo com Schudy, as rotações ocorrem quando o crescimento na região condilar difere do crescimento vertical na região de molares. Se na região dos molares for maior, essa variação pode causar rotação horária, provocando a abertura da mordida. A quantidade e direção de crescimento podem ser obtidas pela correta indicação do tipo de tração extrabucal, que estimule ou não o crescimento na região dos molares.
É importante ressaltar ainda que a idade esquelética do paciente seja de extrema relevância para a excelência da correção dessa má oclusão, pois o surto de crescimento puberal permite, em algumas situações, a harmonização da discrepância esquelética, a diminuição da necessidade de extrações e também a redução no tempo de tratamento.
Discussão - filosofias de tratamento da má oclusão de cl II de Angle
Diferentes aparelhos podem ser usados, entre eles podemos citar os aparelhos funcionais bionator de Balters e o regulador de Frankel, o aparelho extrabucal e o aparelho pêndulo.
As estratégias para a correção dessa má oclusão variam. Harvold e Vargervik relacionaram cinco hipóteses para o tratamento da má oclusão de cl II de Angle: maior crescimento mandibular, mesialização dos dentes posteriores inferiores, restrição do crescimento maxilar, distalização dos dentes superiores e um grande aumento na altura do processo alveolar mandibular em relação ao maxilar.
Segundo Baumrind et al, quando se compara o aparelho extrabucal aos aparelhos funcionais os resultados destes últimos são apenas 1/3 em relação aos primeiros. Wheeler et al também concordaram sobre o tratamento com o AEB ser mais eficaz, tendo verificado duas vezes mais sucesso no tratamento com o AEB.
Época ideal para o tratamento
O tratamento pode ser divido em 3 fases: precoce, na dentadura mista; abrangente, na permanente; e contenção, após o tratamento.
Diversos autores publicaram trabalhos afirmando momentos diferentes como ideais para o início do tratamento.
Um fator a ser considerado é a idade esquelética que indica o surto de crescimento pré-puberal através de radiografias de mão em punho.
Poder-se-á obter bons resultados quando o emprego de forças extrabucais for iniciado de 6 meses a 1 ano antes do início do surto de crescimento puberal para que o restabelecimento parcial ou total da harmonia esquelética maxilo-mandibular preceda o tratamento ortodôntico corretivo.
Outra opção seria iniciar o tratamento com AEB juntamente com o tratamento ortodôntico corretivo no início do surto de crescimento, desde que a discrepância esquelética não seja muito severa.
Avaliação do padrão de crescimento
O padrão de crescimento pode ser avaliado através da cefalometria, grandezas como SN.GoGn e o FMA são excelentes referenciais para determinar se o paciente é dolicofacial, mesofacial ou braquifacial.
Os indivíduos dolicofaciais têm padrão de crescimento vertical, portanto, nesses indivíduos a extrusão dos molares provoca maior inclinação do plano mandibular, acentua o padrão vertical e favorece a abertura da mordida. Desta forma, a tração baixa está contra-indicada para estes indivíduos.
A opção de tração horizontal está indicada para estes pacientes, uma vez que proporciona maior controle dos movimentos intrusivos e extrusivos, bem como promove mais facilmente movimento de translação do dente de suporte.
Em indivíduos braquifaciais o aparelho de tração alta não é muito indicado por causar rotação anti-horária da mandíbula, acentuando a sobremordida.
Para estes indivíduos, pode-se utilizar a tração cervical, pois apresentam um crescimento predominantemente horizontal.
A tração baixa pode ser eventualmente utilizada em pacientes mesofaciais com resultados bastante satisfatórios além do que o aparelho com esta característica é mais facilmente aceito por ser mais estético e confortável.
Tipos de tração ou puxada
Os tipos de tração são: alta ou parietal, horizontal ou occipital e baixa ou cervical.
O AEB pode ser utilizado com o arco externo inclinado para baixo, para cima ou paralelo ao plano oclusal e ainda curto, médio e longo.
A tração baixa tende a direcionar o crescimento da maxila e da mandíbula mais inferior e posteriormente, a retrair o ponto A e a extruir os molares superiores.Verifica-se também um aumento na altura facial ântero-inferior e do ângulo do plano mandibular. Estes resultados, segundo Blueher, podem ser observados em praticamente 50% dos casos tratados com tração baixa.
Observa-se também um grande crescimento efetivo da mandíbula (côndilo-pogônio), comparável ao obtido pelo tratamento com aparelho funcional, e superior ao crescimento naqueles indivíduos sem tratamento ou tratados utilizando tração alta. O aumento da altura do ramo da mandíbula (côndilo-gônio) foi maior quando utilizada tração cervical, em comparação à tração alta e a nenhum tratamento.
A utilização de tração baixa na distalização do molar deverá provocar, além do seu movimento distal propriamente dito, extrusão com inclinação provocando a rotação horária da mandíbula. O movimento extrusivo será maior quanto mais curto for o arco externo. Considerando uma extrusão de 2,0mm do primeiro molar superior a grandeza cefalométrica SNB diminuirá aproximadamente 2,5graus.
Efeito de rotação horária da mandíbula provocado pela extrusão de 2,0 mm do
molar superior durante a utilização do AEB com tração baixa
Como consequência da utilização da tração baixa deverá ocorrer a correção da relação molar de cl II, entretanto haverá uma maior dificuldade na correção da discrepância esquelética maxilo-mandibular, pois o ponto B será posicionado mais para baixo e para trás com a rotação horária da mandíbula.
Utilizando a tração baixa sempre haverá extrusão dos molares. A resultante do movimento utilizando esta tração pode ser visualizada na figura abaixo:
Resultante da movimentação da dentição, considerando os vetores
de reação aos movimentos dental e maxilar, utilizando AEB com tração
baixa (adaptação de Teuscher, 1986).
A diferença é observada nas seguintes situações: quando o arco externo está inclinado para baixo, o principal movimento é distalização, com forte inclinação da COROA para distal, e, quando inclinado para cima, conforme o grau dessa inclinação, o dente extrui e inclina a RAÍZ para distal, como pode ser visualizado na figura abaixo.
Efeito produzido no molar pela combinação de diferentes comprimentos e inclinações do arco externo do aparelho extrabucal utilizando-se a tração baixa (adaptação de Langlade, 1993).
Segundo Melsen, quando o arco externo está inclinado para cima, os movimentos dentários são menores, mas não há tanta inclinação e se obtém maior restrição do crescimento ântero-posterior da maxila.
Um ponto desfavorável na utilização da tração baixa é a forte inclinação produzida no dente suporte uma vez que dentes inclinados tendem a se verticalizar no período pós-tratamento de acordo com o posicionamento das suas raízes. Portanto, deverá ser realizada uma pequena sobrecorreção da relação molar.
Os efeitos nos molares com as combinações de ajustes do arco externo para a tração horizontal são mostrados abaixo:
Efeito produzido no molar pela combinação de diferentes comprimentos e inclinações do arco externo do aparelho extrabucal utilizando-se a tração horizontal (adaptação de Langlade, 1986).
Os efeitos nos molares com as combinações de ajustes do arco externo para a tração alta:
Efeito produzido no molar pela combinação de diferentes comprimentos e inclinações do arco externo do aparelho extrabucal utilizando-se a tração alta (adaptação de Langlade, 1986).
A tração alta ou parietal acentua a irrupção dos molares inferiores, segundo Brown, que afirmou não existir uma tendência significante do ponto A ser posicionado para trás e da AFAI aumentar. Barton verificou que a tração alta pode não exercer a força horizontal necessária para posteriormente retrair incisivos em severas protrusões, sendo nestes casos necessário indicar a tração média.
Langlade citou como principais efeitos da tração alta: intrusão dos molares superiores, que aumenta com o encurtamentodo arco externo e sua orientação para baixo; pouca distalização do molar; reorientação da direção do crescimento da maxila; rotação antihorária da mandíbula e aumento da ancoragem do molar superior.
Em relação à utilização de forças extrabucais combinadas (tração alta e baixa), Langlade afirmou que o movimento distal dos primeiros molares superiores pode ser realizado por translação se a intensidade da força vertical for maior que a força cervical. De acordo com combinação de forças verticais e cervicais, pode-se verificar intrusão do molar superior, rotação horária da maxila e diminuição da convexidade facial por modificação favorável das relações das bases ósseas maxilo-mandibulares.
Este artigo é grande, continue vendo o artigo completo aqui
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6 comentários:
Olá Ricardo, por favor vc teria este artigo na íntegra para me passar? Também sou um adepto do AEB e gostei muito do que vc colocou no seu blog.
Abraço
Fabrício
fabriciosfernandes@hotmail.com
Olá Fabrício, você pode baixá-lo neste link:
http://rapidshare.com/files/304536578/principios_biomec__nicos_do_aparelho_extrabucal.pdf
Oi Ricardo,
Meu nome é kathya e estou fazendo uma monografia sobre O TRATAMENTO DA MALOCLUSÃO CLASSE II 1° DIVISÃO DE ANGLE COM O USO DE AEB, se puder, gostaria que me passasse por email alguns artigos sobre o assunto, se vc tiver - é claro.
no mais,
meu email é kathytabacana@hotmail.com
Abraço
Oi Ricardo tudo bem? Gostaria de obter esse artigo na íntegra e se possível os artigos que tratam sobre o SAHOS
Obrigada!!
anaclelia@gmail.com
Olá Ricardo,gostei muito deste artigo, pode me passar na integra para ana.c.ferreira@hotmail.com.
Obrigada
Amigos, o link para Download do artigo completo está no final da postagem.
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