Ricardo Nader
Há alguns dias Leonardo Augusto fez uma postagem sobre protetores bucais no site do dentista. Isto me inspirou a fazer aqui uma postagem demonstrando a sua confecção, espero que seja útil.
Antes de começar quero agradecer ao Leonardo pois os artigos desta postagem me foram passados por ele. Obrigado Léo.
Os protetores bucais são usados com o intuito de reduzir o número de lesões no complexo orofacial de praticantes de esportes de contato. Quando colocados na boca mantêm os tecidos moles separados dos dentes e previnem a laceração dos lábios contra os dentes durante golpes traumáticos, além de amenizar e distribuir forças dos golpes frontais diretos que, de outro modo, causariam fraturas ou deslocamentos dos dentes anteriores.
Evitam também um contacto violento dos dentes nas arcadas antagonistas o que poderia levar à sua fratura, (uma vez que prejudica as estruturas de sustentação), e previnem a possibilidade do paciente engolir os fragmentos dentários.
A proteção da articulação é um aspecto muito importante. O uso do protetor permite que a mandíbula se separe do maxilar, o que previne que os côndilos se dirijam para trás e para cima na cavidade glenóide. As suas implicações serão discutidas mais à frente neste trabalho. Podem também reduzir a pressão intracraniana e a deformação óssea ocasionada pelos golpes.
Indicações clínicas e vantagens dos protectores bucais
Existem situações clínicas que podem ser consideradas mais predisponentes ou com maior probabilidade de determinarem traumas dento-alveolares:
1. Portadores de Classe II - divisão 1 de Angle, devido a insuficiência labial, têm cinco vezes mais predisposição a trauma, do que indivíduos com oclusão em Classe I de Angle;
2. Respiradores bucais e com hábitos de sucção;
3. Pacientes especiais com falta de coordenação motora.
Vantagens para o uso de protectores bucais:
1. Protecção dentária, por evitar custos elevados para tratamento de um dente fraturado;
2. Protecção dos tecidos moles e fraturas mandibulares, uma vez que forças responsáveis por perda de dentes podem também causar contusões, lesões do pescoço ou fraturas da mandíbula;
É importante referir que, mesmo em situações em que o paciente esteja a realizar tratamento ortodôntico, é possível o uso de protetores.
Pelo fato de que, durante o tratamento ortodôntico ou na dentição mista os dentes mudam de posição, pois os dentes permanentes continuam a sua erupção, as moldagens efetuadas previamente, para um protector executado em laboratório, podem não corresponder à realidade quando da entrega do respectivo protetor.
Uma solução para este problema consiste em criar um espaço de modo a compensar movimentos dentários futuros. Desta forma a longevidade do protector bucal poderá ser aumentada.
Por ser necessário elaborar mais do que um protector por ano em crianças em fase de crescimento ou em tratamento ortodôntico. Contudo é fundamental alertar os pais para os benefícios destes dispositivos os quais, ao evitarem tratamentos mais dispendiosos em caso de fracturas/avulsão dentária, poderão ser vistos como um bom investimento no futuro.
Classificação dos protectores bucais
Protectores pré-fabricados: Os mais baratos, menos efectivos e mais desconfortáveis, à venda em lojas de materiais esportivos, interferem com o discurso e respiração, não são firmemente seguros e oferecem uma falsa sensação de segurança, supõe que a mesma medida se adapta em todas as bocas.
Protectores "boil and bite": Moldados para adaptar a cada indivíduo; são relativamente baratos, e estão à venda em lojas de materiais esportivos; são feitos de material termoplástico que amolece quando fervido em água; o processo de fervura diminui a espessura e a efectividade; interferem com o discurso e a respiração, nunca adaptam correctamente e deformam-se facilmente.
Protetores "custom-made": Os mais efectivos e mais caros, uma vez que obrigam a duas consultas com o dentista; feitos a partir de moldes individuais (em alginato), realizados pelo dentista; são os que se adaptam melhor e que permitem melhor capacidade de discurso, conforto, bem como uma respiração mais facilitada, melhoram a performance e reduzem a fadiga muscular.
Material usado na confecção dos protectores bucais
O protetor bucal deve ser fabricado com um copolímero polietilenopolivinilacetato (EVA), que permite a inclusão de camadas duras ou moles no protector. O EVA tem na sua composição vinil de acetato que é de natureza não tóxica, com boa elasticidade e fácil de produzir, o que torna este material muito aceitável para a confecção destes dispositivos.
Considerações quanto à relação conforto/eficácia na absorção do choque
Os protectores bucais devem ser confortáveis e eficazes. Essa eficácia depende da espessura dos mesmos. A espessura não deve ultrapassar os 4-5 mm devido ao conforto que começa a diminuir a partir destes valores. Protetores mais espessos causam maior desconforto pelas alterações produzidas nos lábios e bochechas, na fala e na respiração. Ao mesmo tempo, protectores finos são mais bem tolerados mas são menos eficazes em termos de absorção de energia e transmissão de forças.
Fase clínica: primeira consulta
Deverá ser efetuada uma impressão em alginato da arcada superior.
Fase laboratorial:
1. Após a obtenção dos modelos de gesso, eliminar o máximo possível de imperfeições para que não haja
possibilidade de estas causarem desadaptação;
2. Após isolamento do modelo, este, recoberto com placa de material borrachóide termomoldável, vai à máquina de vácuo para adaptação máxima do material ao modelo.
Fase clínica: adaptação na boca
1. Recortar pela zona superior do vestíbulo, a cerca de 3 mm do bordo gengival, desobstruindo freios e inserções musculares;
2. Experimentar a adaptação na boca, para que não exista báscula;
3. Cortar locais do protetor que possam interferir com freios labiais;
4. Em seguida, se tudo estiver bem, aquecer em água quente para que fique ligeiramente moldável, para colocar em boca, adaptando a zona vestibular por pressão com os dedos na face e mordendo de forma a criar edentações;
5. Os bordos do protector devem ter um acabamento e polimento com brocas de peça de mão, de tungsténio e de grão fino e pedra-pomes.
Características do protetor bucal
- Cobrir todos os dentes do maxilar superior, de forma a ser retentivo, estável e com distribuição de forças mai eficaz, bem como cobrir o palato (no mínimo, deve entrar 4 a 6 mm no palato). Devem extender-se distalmente até ao segundo molar, pelo menos, para garantir eficácia na absorção e dispersão da força traumática.No caso das zonas desdentadas, todo o rebordo alveolar deverá ser recoberto.
- A adaptação deverá ser correta, para que o protector fique estável, sem báscula e retentivo. A superfície oclusal não deverá ter rugosidades, apenas as edentações para permitir maior estabilidade da mandíbula.
- Deverá interferir o mínimo com o espaço funcional livre (3 a 4 mm, máximo 5 mm de espessura) de forma a evitar dores musculares por activação do reflexo miotáctico, dificuldade em deglutir saliva e desconforto.
- Não deve traumatizar a mucosa, e por isso todos os ângulos deverão ser arredondados, para um máximo conforto, e a estética deverá ser aceitável.
Conservação do protetor bucal
As considerações mais importantes, sobre a conservação do protetor bucal são:
1. Colocar o protetor molhado na boca;
2. Lavar, quando possível, com pasta dentária/sabão e escova não abrasiva;
3. Colocá-lo molhado numa caixa, deixando-o secar sozinho (a hidratação ajuda a manter a elasticidade);
4. Pode-se colocar num saco plástico com bola de algodão úmida;
5. Não deixar ao sol nem em automóvel fechado;
6. Não dobrar;
7. Consultar o profissional quando surgirem problemas;
8. O protector é individual, não se deve compartilhar com outra pessoa..
2. Lavar, quando possível, com pasta dentária/sabão e escova não abrasiva;
3. Colocá-lo molhado numa caixa, deixando-o secar sozinho (a hidratação ajuda a manter a elasticidade);
4. Pode-se colocar num saco plástico com bola de algodão úmida;
5. Não deixar ao sol nem em automóvel fechado;
6. Não dobrar;
7. Consultar o profissional quando surgirem problemas;
8. O protector é individual, não se deve compartilhar com outra pessoa..
Sequência de fotos da confecção de um protetor usando-se vinil:
Modelo |
Delimitação no modelo |
Adaptação no modelo |
Acabamento com Hannau |
Acabamento com fresa |
Adaptação na boca |
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Um comentário:
Oi, Ricardo!
Eu que agradeço a sua delicadeza de me citar no seu post.
Obrigado!
Grandes Abraços!
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