08 setembro 2010

A barra palatina intrui mesmo os molares?

Ricardo Nader


Esta pergunta foi enviada por um leitor da DentalPress e as respostas foram dadas pelo professor Adilson Luiz Ramos na edição FEV/MAR 2003.

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Introdução



Um efeito expressivo de intrusão não foi devidamente comprovado por experimentos clínicos. A variabilidade de resposta entre os casos clínicos suporta a dificuldade em prever o efeito deste dispositivo ortodôntico.

Segundo Cetlin, apud McNamara Jr., e Brudon a confecção de um “looping” maior e direcionado para mesial , permitiria uma melhor atuação da língua sobre a barra, distribuindo forças intrusivas sobre os molares.

Ney e Goz concluíram que as forças intrusivas ocorrem tanto se o looping estiver para mesial, quanto para distal. Porém, recomendaram que o looping fosse direcionado para distal, para que o momento gerado junto à força intrusiva, inclinasse o molar para distal, favorecendo a ancoragem, bem como a Correção da Classe II.

Burstone, sugeriu a inclusão de um botão de acrílico na área do looping da barra, para que não lesasse a língua, quando da confecção de uma barra mais baixa (i.e., mais afastada do palato para obtenção de maior efeito intrusivo).

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Faça o botão de acrílico quando nenhuma ativação na barra for necessária ( correção de giros dos molares, distalização, expansão ou contração) pois ele dificulta estas ativações.

Recentemente, Chiba et al., demonstraram que a força dalíngua exercida sobre o looping é maior quando o mesmo está posicionado mais próximo da área do segundos molares e à 6mm afastada do palato. Chiba et al.6, utilizaram um medidor de pressão acoplado no looping da barra. Verificaram as forças liberadas quando o looping está a 2, 4 e 6mm afastado do palato. Também pesquisaram a quantidade de força liberada variando-se a posição ântero-posterior do looping. Examinaram a pressão quando o looping estava direcionado para mesial e na área dos pré-molares, quando estava direcionado para distal e na área dos primeiros molares e quando estava para distal e na área dos segundos pré molares.

Observaram que a pressão da língua sobre a barra palatina afastada 2mm do palato foi de 97g/cm2, quando o looping estava posicionado mais anteriormente (região de pré-molares).

Registraram que a força aumentou para uma média de 178g/cm2, quando o looping da barra foi posicionado mais posteriormente (região dos 2os molares), e mantida afastada 2mm.

Documentaram também que o  afastamento de 2 para 4 e 6mm aumentou significantemente a pressão da língua sobre a BP, para até 223g/cm2 (maior na região dos 2os molares).

Entretanto, não foi significante a diferença entre 4 e 6mm. Estas evidências permitiram sugerir que, para a finalidade de intrusão, a barra deveria ser confeccionada com o looping para distal, posicionado entre a região de primeiros e segundos molares, e afastado de 4 a 6mm do palato.

Torna-se importante ressaltar que a barra deve ser confeccionada respeitando-se a tolerância do paciente, e a medida que se habitua, pode-se aumentar a distância do palato.

Lazzara apud McNamara e Brudon, avaliou a pressão lingual sobre a barra em 11 jovens com padrão vertical e observou menores forças distribuídas. A força postural da língua sobre o palato parece ser menor no dolicofacial. Provavelmente devido à posição mais baixa da língua na postura e deglutição nos padrões cefalométricos verticais.

Já Deberardinis et al., observaram um significante controle vertical com o uso da barra com botão de acrílico. Observaram que a AFAI aumentou menos no grupo experimental com barra, e o SNGoGn diminuiu 1 grau na média. A barra foi usada por 17 ± 6 meses. O movimento vertical dos molares foi de 0,82mm no grupo com a barra, enquanto no grupo controle foi de 1,23mm. Isto indicou que o molar extruiu em ambos os grupos, mas foi restringido no grupo com a barra, conferindo uma intrusão relativa. O movimento vertical (acompanhando o desenvolvimento alveolar) dos molares é de aproximadamente 1mm por ano dos 9 aos 14 anos.

Diante dos efeitos clínicos e relatos da literatura, pode-se afirmar que sim. Mas trata-se de uma intrusão relativa, que depende da idade, características na sua construção e posição, e padrão facial.
Diante das evidências clínicas e científicas, não podemos esperar grandes “milagres” intrusivos da barra palatina, mas podemos usá-la como um ótimo colaborador para o fechamento de mordidas abertas anteriores (principalmente no paciente em crescimento), bem como para o gerenciamento da mecânica no paciente vertical.
 
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